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sábado, 5 de maio de 2012

O MENINO SOL QUE NUNCA QUERIA IR DORMIR


Há muito, muito tempo, há milhões de anos atrás, não existia nada à face da terra… Nada de nada! Nem mesmo pessoas ou animais. Em contrapartida, o céu já era habitado: o Sol, a Lua, as estrelas… Já lá estavam todos. Naqueles tempos, eram ainda muito novos, caprichosos, malucos e, por vezes, mal-educados. Sobretudo o Sol! Passava o tempo a passear os seus raios novos e ofuscantes, todo orgulhoso por ser o mais luminoso, o mais cintilante! Aborrecia toda a gente com os seus raios, o seu calor e a sua luz.

— Pára de brilhar! Fazes-nos mal aos olhos! — diziam as nuvens.
— Apaguem-no! Não consigo fechar os olhos! — resmungava a Lua.
— Ah, estes jovens! Julgam que podem fazer tudo! — protestavam as estrelas mais velhas.
— Nunca estás quieto? — suspirava a Terra, extenuada.
— É sempre de dia! Nem podemos fechar os olhos! — diziam as pequenas estrelas, que, como todas as crianças, precisavam de dormir.
Todos os habitantes do Céu, cansadíssimos, irritados, tristonhos, começaram a pensar no que fazer ao menino Sol para ele brilhar menos: fechá-lo num armário escuro, pôr-lhe graxa preta…
— Isto não pode continuar! — trovejava a Trovoada. — Temos de encontrar uma solução.
E teve logo uma ideia, que contou à Lua e às estrelas.
A Trovoada teve então uma conversa com o menino Sol.
— Solzinho, tivemos uma ideia. Vais brilhar entre nós algumas horas e, depois, ala!… vais brilhar para o outro lado da Terra. Assim, fazes algumas horas connosco e algumas horas com o outro lado. Enquanto lá estiveres, eles divertem-se e nós dormimos. E enquanto estiveres entre nós, são eles a descansar. Assim, não precisas de parar e toda a gente ficará satisfeita!
O menino Sol saltou de alegria face à ideia de ter duas casas e, sobretudo, amigos em todo o lado.
A partir daí passou a haver noite na terra, para grande felicidade dos seus habitantes, que podem assim repousar. Foi nessa altura, aliás, que os homens apareceram, dizendo que, com um pouco de Sol durante o dia e um pouco de escuro à noite, a vida seria bem agradável na Terra.
Sabe-se que, à noite, o Sol nunca chega a desaparecer totalmente, mas que está simplesmente do outro lado da Terra, a viver a sua segunda vida, na sua segunda casa, à espera de voltar. É por isso que nunca se deve ter medo do escuro.

AS JANELAS DOURADAS


O menino trabalhava arduamente durante todo o dia, no campo, no estábulo e no armazém, pois os pais eram fazendeiros pobres e não podiam pagar a um ajudante. Mas, quando o sol se punha, o pai deixava-lhe aquela hora só para ele. O menino subia ao alto de um morro e ficava a olhar para um outro morro, distante alguns quilómetros. Nesse morro, via uma casa com janelas de ouro e de diamantes. As janelas brilhavam e reluziam tanto que ele era obrigado a piscar os olhos. Mas, pouco depois, ao que parecia, as pessoas da casa fechavam as janelas por fora, e então a casa ficava igual a qualquer outra casa. O menino achava que faziam isso por ser hora de jantar; então voltava para casa, jantava e ia deitar-se. Um dia, o pai do menino chamou-o e disse-lhe:
— Tens sido um bom menino e ganhaste um dia livre. Tira esse dia para ti; mas lembra-te: tenta usá-lo para aprenderes alguma coisa boa.
O menino agradeceu ao pai e beijou a mãe. Em seguida partiu, tomando a direcção da casa das janelas douradas.
Foi uma caminhada agradável. Os pés descalços deixavam marcas na poeira branca e, quando olhava para trás, parecia que as pegadas o seguiam, fazendo-lhe companhia. A sombra também caminhava ao seu lado, dançando e correndo, tal como ele. Era muito divertido.
Passado um longo tempo, chegou ao morro verde e alto. Quando subiu ao topo, lá estava a casa. Mas parecia que haviam fechado as janelas, pois ele não viu nada de dourado. Aproximou-se e sentiu vontade de chorar, porque as janelas eram de vidro comum, iguais a qualquer outra, sem nada que fizesse lembrar o ouro.
Uma mulher chegou à porta e olhou carinhosamente para o menino, perguntando o que ele queria.
— Eu vi as janelas de ouro lá do nosso morro — disse ele — e vim de propósito para as ver de perto, mas elas são de vidro!
A mulher meneou a cabeça e riu-se.
— Nós somos fazendeiros pobres — disse — e não poderíamos ter janelas de ouro. E o vidro é muito melhor para se ver através dele!
Convidou o menino a sentar-se no largo degrau de pedra e trouxe-lhe um copo de leite e uma fatia de bolo, dizendo-lhe que descansasse. Chamou então a filha, que era da idade do menino; dirigiu aos dois um aceno afectuoso de cabeça e voltou aos seus afazeres.
A menina estava descalça como ele e usava um vestido de algodão castanho, mas os cabelos eram dourados como as janelas que ele tinha visto e os olhos eram azuis como o céu ao meio-dia. Passeou com ele pela fazenda e mostrou-lhe o seu bezerro preto com uma estrela branca na testa; ele falou do bezerro que tinha em casa, e que era castanho-avermelhado com as quatro patas brancas. Depois de terem comido juntos uma maçã, e se terem tornado amigos, ele fez-lhe perguntas sobre as janelas douradas. A menina confirmou, dizendo que sabia tudo sobre elas, mas que ele se tinha enganado na casa.
— Vieste numa direcção completamente errada! — exclamou ela. — Vem comigo, vou-te mostrar a casa de janelas douradas, para ficares a saber onde fica.
Foram para um outeiro que se erguia atrás da casa, e, no caminho, a menina contou que as janelas de ouro só podiam ser vistas a uma certa hora, perto do pôr-do-sol.
— Eu sei, é isso mesmo! — confirmou o menino.
No cimo do outeiro, a menina virou-se e apontou: lá longe, num morro distante, havia uma casa com janelas de ouro e de diamantes, exactamente como ele tinha visto. E quando olhou, o menino viu que era a sua própria casa!
Apressou-se então a dizer à menina que precisava de se ir embora. Deu-lhe a sua melhor pedrinha, a branca com uma lista vermelha, que trazia há um ano no bolso. Ela deu-lhe três castanhas- da-índia: uma vermelha acetinada, outra pintada e outra branca como leite. Ele deu-lhe um beijo e prometeu voltar, mas não contou o que descobrira. Desceu o morro, enquanto a menina ficava a vê-lo afastar-se, na luz do sol poente.
O caminho de volta era longo e já estava escuro quando chegou a casa dos pais. Mas o lampião e a lareira luziam através das janelas, tornando-as quase tão brilhantes como as vira do outeiro. Quando abriu a porta, a mãe veio beijá-lo e a irmãzinha correu a pendurar-se-lhe ao pescoço; sentado perto da lareira, o pai levantou os olhos e sorriu.
— Tiveste um bom dia? — perguntou a mãe.
— Sim! — o menino passara um dia óptimo.
— E aprendeste alguma coisa? — perguntou o pai.
— Sim! — disse o menino. — Aprendi que a nossa casa tem janelas de ouro e de diamantes.
William J. Bennett
O Livro das Virtudes II – O Compasso Moral
Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1996

O DRAGÃO COR-DE-VIOLETA


        Era uma vez uma floresta enorme e muito antiga, onde moravam muitos animais, e todos viviam satisfeitos. Tinham tudo aquilo de que precisavam e não eram incomodados pelos homens, pois estes ainda não tinham descoberto esta floresta. Só evitavam a parte norte da floresta. Segundo uma antiga lenda, havia aí um terrível dragão cor-de-violeta que comia tudo o que lhe aparecia à frente. Nunca nenhum dos animais vira o dragão violeta mas, mesmo assim, não se aventuravam a ir à parte norte.
Na floresta viviam também muitos ursos com os seus filhos. Um desses ursinhos era o Nestor. Nestor era mais pequeno do que os outros ursos da sua idade. Não conseguia correr tão depressa como os seus companheiros de jogo, na luta perdia sempre e, na subida às árvores, era sempre o último. Por isso, muitas vezes, os outros ursinhos, não queriam deixá-lo brincar. E, ainda por cima, riam-se dele.
Nestor era mais fraco do que os outros, sim, mas era muito corajoso.
Quando, certo dia, os ursinhos voltaram a não querer deixá-lo brincar com eles, saiu dali em direcção ao norte, onde morava o dragão violeta. Mas o ursinho nem estava a pensar no dragão. Após ter corrido muito, Nestor foi parar a uma bela clareira. Sentou-se em cima de uma pedra e pôs-se a reflectir na injustiça dos seus companheiros. De repente, ouviu-se um leve estalar no meio das árvores e a cabeça do dragão violeta apareceu por cima delas. O ursinho apanhou um valente susto ao ver o enorme animal. Mas o dragão violeta tinha uma cara tão amorosa, que Nestor perdeu o medo todo. Ficaram a olhar um para o outro durante um bocado. Nestor percebeu que o dragão também se sentia só. Ergueu-se e tocou na ponta do nariz do dragão, que fungou baixinho e sorriu. Em seguida, encolheu o enorme pescoço e desapareceu por entre a copa das árvores.
O ursinho regressou a casa feliz. Será que devia contar aos amigos o encontro que tivera com o dragão? De certeza que não iam acreditar numa única palavra.
“Amanhã volto outra vez à clareira”, pensou Nestor. “Será que o dragão violeta vai aparecer?”
Só de pensar no encontro, Nestor já se sentia feliz!
Erwin Moser
Mario der Bär
Weinheim Basel, Parabel, 2005
Texto adaptado